quinta-feira, julho 08, 2010

terça-feira, abril 27, 2010

...
















Talvez não ser,

é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,


E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...


E por amor
Serei... Serás...Seremos...



Pablo Neruda

domingo, abril 25, 2010

Ainda Que Mal















Ainda que mal pergunte,

ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: AMOR!


Carlos Drummond de Andrade

domingo, março 21, 2010

Morre lentamente



Morre lentamente quem não viaja,


quem não lê,


quem não ouve música,


quem não encontra graça em si mesmo.






Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,


quem não se deixa ajudar.






Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,


repetindo todos os dias os mesmos trajectos,


quem não muda de marca,


não se arrisca a vestir uma nova cor


ou não conversa com quem não conhece.






Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.






Morre lentamente quem evita uma paixão,


quem prefere o negro sobre o branco


e os pontos sobre os "is"


em detrimento de um redemoinho de emoções


justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos


dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.






Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,


quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,


quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.






Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se


da sua má sorte ou da chuva incessante.






Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,


não pergunta sobre um assunto que desconhece


ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.






Pablo Neruda

Bjs Cris



sábado, março 13, 2010

Elegia a uma pequena borboleta

Como chegavas do casulo,


— inacabada seda viva —


tuas antenas — fios soltos


da trama de que eras tecida,


e teus olhos, dois grãos da noite


de onde o teu mistério surgia,






como caíste sobre o mundo


inábil, na manhã tão clara,


sem mãe, sem guia, sem conselho,


e rolavas por uma escada


como papel, penugem, poeira,


com mais sonho e silêncio que asas,






minha mão tosca te agarrou


com uma dura, inocente culpa,


e é cinza de lua teu corpo,


meus dedos, sua sepultura.


Já desfeita e ainda palpitante,


expiras sem noção nenhuma.






Ó bordado do véu do dia,


transparente anêmona aérea!


não leves meu rosto contigo:


leva o pranto que te celebra,


no olho precário em que te acabas,


meu remorso ajoelhado leva!






Choro a tua forma violada,


miraculosa, alva, divina,


criatura de pólen, de aragem,


diáfana pétala da vida!


Choro ter pesado em teu corpo


que no estame não pesaria.






Choro esta humana insuficiência:


— a confusão dos nossos olhos


— o selvagem peso do gesto,


— cegueira — ignorância — remotos


instintos súbitos — violências


que o sonho e a graça prostram mortos






Pudesse a etéreos paraísos


ascender teu leve fantasma,


e meu coração penitente


ser a rosa desabrochada


para servir-te mel e aroma,


por toda a eternidade escrava!






E as lágrimas que por ti choro


fossem o orvalho desses campos,


— os espelhos que refletissem


— vôo e silêncio — os teus encantos,


com a ternura humilde e o remorso


dos meus desacertos humanos!






Cecília Meireles
Bjs Cris

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Kiss The Rain :D

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Lov* u